*Thomas Ice
Joel Richardson e alguns outros
autores têm afirmado pela última década que o Anticristo que está por vir será
muçulmano. Ele escreveu uma série de livros advogando esta visão. Sua última
contribuição é The Islamic Antichrist [O Anticristo
Islâmico].[1] Os seus principais argumentos baseiam-se na comparação da
escatologia cristã com a islâmica, das quais ele retira uma determinada
conclusão. Depois ele vai, em segundo plano, para a Bíblia em um esforço para
tratar das passagens que contradizem sua conclusão. Este é um exemplo clássico
de exegese de jornal em que um indivíduo vê algo acontecendo no mundo, depois
vai à Bíblia e tenta fazer aquilo se encaixar no programa profético das
Escrituras. Penso que Richardson e aqueles que concordam com ele estão
absolutamente errados sobre esta questão, uma vez que o livro de Daniel afirma
claramente que o Anticristo virá de Roma, não de uma nação islâmica.
Exegese de Jornal
Hoje, muitos mestres populares de
profecias bíblicas empregam a exegese de jornal em suas análises de eventos
atuais em relação às profecias. Richardson é um dos exemplos mais extremos
disso em nossos dias. A abordagem adequada que todos os estudantes de profecia
bíblica deveriam empregar é primeiramente estudar a Bíblia indutivamente para
ver o que ela diz, não levando em consideração nenhum dos acontecimentos
correntes. Deve-se primeiro verificar, a partir de uma interpretação adequada
das Escrituras, o que é que o Senhor afirma sobre profecias bíblicas futuras.
Uma vez que a pessoa verificou o que a Bíblia afirma, então será capaz de
montar uma estrutura do plano de Deus para o futuro. Nosso Senhor não nos falou
todos os detalhes; todavia, há muita informação que Ele nos forneceu. Portanto,
somos capazes de construir um esboço bastante amplo sobre como será o período
da Tribulação.
Assim que tiver manuseado
adequadamente as Escrituras desta maneira, a pessoa pode, então, olhar os
acontecimentos atuais e verificar determinadas tendências que podem estar se
desenvolvendo e movimentando na direção que a Bíblia prediz. Por exemplo, a
Bíblia tem dezenas de profecias sobre Israel ser uma nação em sua própria terra
durante a Tribulação. Já vimos o retorno de milhões de judeus para sua terra
natal e o estabelecimento da nação de Israel para acontecimentos que ocorrerão
durante a Tribulação. Centenas de anos antes que isto ocorresse, muitos
cristãos tomaram conhecimento, através da Bíblia, de que isso aconteceria e
escreveram dezenas de livros explicando tal visão. Isto não seria exegese de
jornal. Entretanto, Richardson teve a ideia de um Anticristo muçulmano lendo
primeiro as notícias dos eventos atuais e passou a especular sobre sua ideia.
Esta é uma abordagem errada à profecia bíblica.
A Falsa Visão de
Richardson
Richardson acredita que há muitas
semelhanças entre a escatologia cristã e a escatologia islâmica. Deve haver
mesmo algumas semelhanças, pois muitas das crenças do islamismo se
desenvolveram a partir de fontes cristãs e judaicas. Na época em que Maomé
viveu, 50% dos habitantes da Arábia eram cristãos. Havia também uma forte
presença de judeus na Arábia; sendo que os cristãos e judeus eram praticamente
os únicos habitantes alfabetizados. Diz-se que um escriba judeu foi quem fez os
principais registros do Corão. Além disso, o Hadith, que é uma coleção de cerca
de 400.000 ditados, supostamente expressos por Maomé e escritos durante um
período de mais de 200 anos depois de Maomé, contém muitas visões
contraditórias sobre o futuro. Portanto, não surpreende que algumas ideias cristãs
e judaicas tenham sido tomadas emprestado e trazidas para dentro do islamismo.
Dave Reagan, em uma palestra feita em
uma Conferência de Grupos de Estudo Sobre Pré-Tribulacionismo, observou:
De acordo com o cenário do final
dos tempos de Richardson, o Mahdi e o Jesus muçulmano (o Falso Profeta) unirão
todo o mundo islâmico, reavivando o Império Otomano. Eles conquistarão Israel e
estabelecerão o quartel-general de um Califado em Jerusalém. Seu governo
chegará ao fim com a batalha de Gogue e Magogue, que está retratada em Ezequiel
38 e 39, e que acontecerá no final da Tribulação, quando o Senhor Jesus Cristo
retornar. E, novamente, quando Jesus retornar, o mundo islâmico verá o
verdadeiro Jesus como o Daijal, ou o Anticristo islâmico. Um problema evidente
com este cenário é que a escatologia islâmica afirma que o Daijal, o
Anticristo, virá primeiro, e seu surgimento será o sinal de que o Mahdi está
para chegar. O cenário de Richardson coloca o aparecimento do Daijal islâmico
no final da Tribulação, em vez de ser no início. Portanto, pergunto: Se alguém
entra em cena afirmando ser o Mahdi antes do surgimento do Daijal, por que esse
alguém seria aceito pelos muçulmanos?[2]
O Anticristo Será
Romano
Na passagem das 70 semanas de Daniel,
Gabriel diz a Daniel que o Anticristo virá do mesmo povo que destruiria
Jerusalém e o Templo, o que aconteceu no ano 70 d.C. Todos concordam que foram
os romanos que realizaram essa destruição. A passagem se refere ao “príncipe
que há de vir” (Dn 9.26). “Ele”, no versículo 27, se
refere também ao “príncipe que há de vir” e é uma referência ao
futuro Anticristo durante a Tribulação. Assim, esta passagem diz claramente que
o Anticristo virá do Império Romano reavivado.
“Depois de sessenta e duas
semanas, será morto o Ungido e já não estará; e o povo de um príncipe que há de
vir destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim virá num dilúvio, e até ao
fim haverá guerra; desolações são determinadas. Ele fará firme aliança com
muitos, por uma semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a
oferta de manjares; sobre a asa das abominações virá o assolador, até que a
destruição, que está determinada, se derrame sobre ele” (Dn 9.26-27).
Alto-relevo no Arco de Tito, em Roma:
Cena do desfile com os despojos do templo judaico destruído em 70 d.C.
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Daniel 7 fala da quarta besta (Dn
7.7), que é Roma. Isto se confirma no livro do Apocalipse, que fala sobre os
mesmos impérios e diz:
“As sete cabeças
são sete montes, nos quais a mulher está sentada. São também sete reis, dos
quais caíram cinco, um existe, e o outro ainda não chegou; e, quando chegar,
tem de durar pouco. E a besta, que era e não é, também é ele, o oitavo rei, e
procede dos sete, e caminha para a destruição” (Ap 17.9-11).
Os sete montes não se referem a Roma,
pois o versículo seguinte diz tratar-se de sete reis. A quem eles se referem?
Trata-se dos sete reis na história que perseguiram o povo judeu. O primeiro é o
Egito, que escravizou Israel. O segundo são aos assírios, que levaram o Reino
do Norte ao cativeiro. O livro de Daniel fala sobre o terceiro rei, que foi
Nabucodonosor [Império Babilônio], que escravizou o Reino do Sul. O número
quatro é o Império Medo-Persa, durante o qual ocorreu o que está relatado no
livro de Ester e o povo judeu foi libertado. O quinto se refere aos gregos, à
sua tentativa de helenizar os judeus e a perseguição que ocorreu no reinado de
Antíoco Epifânio. O sexto se refere a Roma e à destruição de Jerusalém e do
Templo sob o domínio do governo romano. Este é o império sobre o qual
Apocalipse 17.10 diz “um existe”, uma vez que o Apocalipse foi
escrito durante o tempo do Império Romano. Assim, o sétimo rei se refere ao
Anticristo, que surgirá do Império Romano reavivado no futuro. O sétimo rei se
refere ao Anticristo na primeira metade da Tribulação, enquanto que o oitavo é
o Anticristo que foi morto no meio da Tribulação, depois é ressuscitado e
provavelmente habitado pelo próprio Satanás.
O islamismo só foi fundado no Século
VII d.C.; por isso, não pode fazer parte do Império Romano reavivado,
especialmente porque Roma jamais fez parte do islamismo. Não há uma maneira
pela qual Richardson consiga torcer a história o suficiente para tentar encaixar,
mesmo que de modo espremido, suas ideias desviantes a ponto de incluir o
islamismo nessa estrutura bíblica do passado ou do futuro. A Bíblia, tanto no
Antigo quanto no Novo Testamento, apoia a noção de que o Anticristo virá de
alguma reforma do Império Romano. A atual União Europeia (UE) também não é o
cumprimento dessas profecias. Pode ser que a UE esteja estabelecendo o palco ou
preparando o caminho para um futuro cumprimento de alguma forma do Império
Romano reavivado.
Conclusão
Há muitas outras razões pelas quais o
Anticristo não será um muçulmano, mas deverá ser do Império Romano reavivado. O
espaço não me permite examinar tais razões aqui. Richardson também tenta dizer
que Gogue, em Ezequiel 38 e 39, é o Anticristo que vem da atual Turquia. Ele também
coloca o tempo desse acontecimento na Segunda Vinda. Esta visão é, da mesma
forma, impossível porque a profecia diz que Gogue vem do lado do Norte (Ez
38.6). As mais distantes partes que estão ao norte de Israel só podem se
referir à Rússia. O Anticristo certamente não virá da Rússia. Quando se estudam
as passagens que falam sobre o lugar de onde virá o Anticristo, nos livros de
Daniel e do Apocalipse, não há nada que defenda a falsa noção de que ele será
islâmico. O islamismo não existia quando a Bíblia foi escrita, portanto, não é
mencionado por ela. Parece que não há nada na Bíblia que antecipe
especificamente o surgimento do islamismo. Como não há base bíblica para tal
visão, então não importa o que alguém possa pensar sobre os acontecimentos
atuais ou para onde as tendências parecem pender em relação ao islamismo, essa
visão não é absolutamente mencionada na profecia bíblica e, especialmente, a
Bíblia não menciona um Anticristo islâmico. Os muçulmanos serão como o restante
do mundo incrédulo, que seguirá após o Anticristo romano reavivado, a menos que
eles venham a confiar em Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador durante os
anos da Tribulação. Maranata! (Thomas Ice - Pre-Trib Perspectives - Chamada.com.br)
Notas:
[1]. Joel Richardson,
(Washington, D.C.: World Net Daily Books, 2015).
[2]. Dave Reagan, “An
Evaluation of the Muslim Antichrist Theory” (Uma Avaliação da Teoria do
Anticristo Muçulmano),
http://www.pre-trib.org/data/pdf/Reagan-AnEvaluationoftheMus1.pdf. Este
trabalho é uma excelente refutação da visão do Anticristo islâmico que eu
recomendo sinceramente, exceto por seus comentários no final a respeito do
Salmo 83.
*Thomas Ice é diretor-executivo
do Pre-Trib Research Center (Centro de Pesquisas Pré-Tribulacionistas) e
professor de Teologia na Liberty University. Ele é Th.M. pelo Seminário
Teológico de Dallas e Ph.D. pelo Seminário Teológico Tyndale. Editor da Bíblia
de Estudo Profética e autor de aproximadamente 30 livros, Thomas Ice é também
um renomado conferencista. Ele e sua esposa Janice vivem com os três filhos em
Lynchburg, Virginia (EUA).
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