Elinaldo Renovato*
“E o mesmo Deus de paz avos santifique
em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados
irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Ts 5.23).
Como não sabemos o
dia da volta de Jesus para arrebatar a sua Igreja, é indispensável estarmos
preparados para aquele grande acontecimento, como se ele viesse a ocorrer hoje,
agora. Infelizmente, na prática, há muitos cristãos que não estão preparados para
subir com a Igreja, na volta do Senhor. Assim como as “virgens loucas”, de
Mateus 25, estão descuidados, não têm reserva espiritual, negligenciam o seu
testemunho e alguns escandalizam o nome do evangelho. No entanto, a volta de
Jesus será repentina, como a vinda de um ladrão para assaltar uma residência.
Não há hora marcada, não há dia conhecido. A surpresa é o fator preponderante.
Por isso, a santificação é requisito fundamental para o encontro com o Senhor
nos ares, em sua volta (1 Ts 5.23).
Jesus usou outras
metáforas para demonstrar a surpresa de sua volta. Aludiu aos dias de Noé,
quando os homens de sua época não estavam nem um pouco interessados em saber o
que aconteceria, anos depois, quando o patriarca lhes alertava para a
catástrofe hídrica que destruiria a humanidade de então. Alertou que sua vinda
seria como nos dias de Ló, acrescentando apenas alguns poucos detalhes que
diferenciavam uns dos outros. Nos dias de Noé: “Porquanto, assim como, nos dias
anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao
dia em que Noé entrou na arca” (Mt 24.38). “Como também da mesma maneira
aconteceu nos dias de Ló: comiam, bebiam, compravam, vendiam, plantavam e
edificavam” (Lc 17.28). Eles pensavam em tudo, menos em santidade. Só olhavam
para as coisas da terra, e se esqueciam de olhar para cima (Cl 3.2).
Qual a diferença
entre os dias de Noé e os dias de Ló? Nos primeiros, havia vida social normal,
incluindo o casamento entre as pessoas; havia agricultura, pois “comiam,
bebiam”. Nos dias de Ló, as atividades eram semelhantes, mas não se fala em
casamento. Coincide com o relato de Gênesis 19. Em Gênesis 19.4,5, ficou
registrado que os homens de Sodoma eram praticantes da homossexualidade.
Queriam “conhecer”, ou ter relações com os visitantes que foram tirar Ló,
imaginando que seriam apenas homens comuns. Diante da maldade excessiva
daquelas cidades, Deus tirou Ló de lá, repentinamente, sem que os habitantes
soubessem, e mandou um fogo dos céus que destruiu a todos. A pecaminosidade e a
corrupção alcançaram níveis além do suportável pelo Deus sumamente santo.
Assim, uma
característica comum ao que aconteceu com os povos antediluvianos e os de
Sodoma e Gomorra foi a surpresa com que foram alcançados pelas respectivas
tragédias. Jesus alertou que, na sua volta para buscar a Igreja, também as
pessoas, no mundo, serão tomadas de surpresa. Jesus virá num dia e numa hora
que ninguém sabe (Mt 24.36). Dessa forma, é indispensável que os cristãos
estejam preparados, sabendo como esperar a volta do Senhor Jesus. E estar
preparado é estar em santidade e em santificação, que é o processo contínuo da
separação do mal.
I - Atitudes Corretas ante a Volta do
Senhor
A primeira fase da
volta de Jesus para buscar a sua Igreja, integrada pelos crentes fiéis e
santos, será tão repentina que não haverá tempo para ninguém preparar-se de
última hora. Os meios de comunicação antigos e os mais modernos não terão
oportunidade para anunciar a iminência da volta de Cristo. Essa premência e
surpresa do arrebatamento dos salvos já foi anunciada há muitos séculos, e
estão bem claras nas Escrituras. Diante dessa realidade profética e real, o
cristão verdadeiro, que tem consciência do que é ser salvo para ir para o céu,
onde Cristo está (Jo 14.3), deve viver num estilo de vida e conduta de quem
está esperando seu Senhor a qualquer momento.
1. Esperar com Vigilância
Quem espera a volta
de Jesus a qualquer momento precisa estar vigilante, tanto ao que acontece ao
seu redor, como dentro de si próprio.
Os sinais exteriores
da volta iminente de Jesus já foram resumidos no capítulo anterior, e estão se
cumprindo na História de maneira infalível, pois as palavras de Jesus não
passarão (Mt 24.35). Porém, o crente em Jesus deve vigiar o que se passa no
“ambiente” interior de seu ser, do seu coração. Os acontecimentos proféticos
hão de cumprir-se independentemente da vontade dos homens sem Deus ou mesmo dos
crentes fiéis. Mas o que acontece no interior de cada pessoa depende de si, de
suas atitudes mentais, de seus sentimentos e emoções, ou “do coração”. O
Dicionário Houaiss diz que vigilância é “1. Ato ou efeito de vigiar(-se); 2.
Estado de quem vigia; 3. Precaução; 4. Cuidado, atenção desvelada” (grifo
nosso). A partícula se indica a vigilância de si mesmo.
A maioria absoluta
dos crentes que ficarão para trás na volta de Jesus deixará de ir para os céus
por causa de suas atitudes erradas, de sua conduta em desacordo com a vontade
Deus, expressa em sua Palavra. Jesus alertou quanto a isso e exortou os discípulos
a serem vigilantes: “Vigiai, pois, porque não sabeis a que hora há de vir o
vosso Senhor” (Mt 24.42). Ele também ensinou sobre a natureza tendente ao
pecado que está dentro de cada um: “Porque do coração procedem os maus
pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e
blasfêmias” (Mt 15.19; Mc 7.21). Todos esses pecados começam no interior do
homem. Satanás conhece bem essa realidade, desde que tentou o homem no Éden e
viu que o ser criado era suscetível de deixar de ouvir a voz de Deus e ouvir a
tentação.
Para não cair em
tentação, e ficar para trás na volta de Jesus, só existe uma receita, dada por
Jesus (Mt 26.41). Somente com oração, muitas vezes reforçada pela prática do
jejum, é que podemos vencer as concupiscências da carne. É evidente que a
maioria dos crentes, hoje, não gosta de orar. As jovens consideradas loucas em
Mateus 25 ficaram de fora da festa nupcial porque não vigiaram, deixando faltar
o azeite em suas vasilhas. Nos dias presentes, há muitos evangélicos negligentes.
Mas Jesus mandou vigiar constantemente, pois não sabemos a hora em que Ele há
de vir. “Sabei, porém, isto: se o pai de família soubesse a que hora havia de
vir o ladrão, vigiaria e não deixaria minar a sua casa” (Lc 12.39).
2. Viver na Unção do Espírito Santo
Na parábola das Dez
Virgens (Mt 25), vemos a necessidade do azeite, que simboliza a presença do
Espírito Santo, para esperar “o Noivo”. Somente as “virgens prudentes”, que
tinham azeite em suas vasilhas, e também reservas por precaução, puderam entrar
com o noivo para as bodas. As “insensatas” ou imprudentes “ainda” foram comprar
azeite, e se atrasaram para as bodas: “E, tendo elas ido comprá-lo, chegou o
esposo, e as que estavam preparadas entraram com ele para as bodas, e fechou-se
a porta” (Mt 25.10 - grifo nosso). A parábola retrata um casamento oriental, em
que, durante uma semana, havia as bodas. As dez virgens representam os crentes
em geral. As prudentes representam os crentes que estão esperando a volta de
Jesus, na comunhão do Espírito Santo, sentindo a sua presença, tipificada pelo
azeite. As virgens “loucas” não são débeis mentais, mas crentes que, ao longo
dos anos, se descuidam, e deixam de buscar a presença de Deus e de seu
Espírito. Notemos que a diferença fundamental entre as prudentes e as loucas
era o que elas tinham quanto à provisão do azeite. Nas igrejas em geral, há um
esfriamento quanto à busca do batismo com o Espírito Santo, que corresponde à
“reserva” indispensável para esperar com segurança a volta de Jesus.
Quando o crente
aceita a Cristo, já tem o Espírito Santo habitando com ele, “habita convosco”,
mas Jesus prometeu: “estará em vós” (Jo 14.17). Os discípulos já eram salvos,
mas ainda precisavam ser “revestidos de poder” (Lc 24.49). E esse revestimento
especial, distinto da salvação, começou a acontecer e a estar à disposição dos
salvos, quando da descida do Espírito Santo, como Jesus prometeu (At 1.8;
2.1-13). Sem a presença do Espírito Santo, no crente, e na sua vida, é
impossível esperar a vinda de Jesus de forma correta. Precisamos ser cheios do
Espírito (Ef 5.18; At 13.52); andar em Espírito (Rm 8.1; G15.19); ser guiados
pelo Espírito (Rm 8.14); ser templo do Espírito Santo (1 Co 6.19). Sem a unção
do Espírito Santo, nos dias presentes, é impossível viver a Palavra de Deus,
obedecer ao Senhor e estar pronto para o arrebatamento.
3. Viver com Santidade
Santidade é uma
palavra esquecida por muitos pastores. Para agradar a todos, numa atitude
demagógica, muitos deixam de ministrar a doutrina da santificação, principalmente
para a juventude. Há igrejas que inventaram as “boates-templo” para atrair
jovens para um ambiente parecido com os locais de reunião de jovens para
namorar, beber, marcar encontros, etc., mesmo que em tais “boates evangélicas”
não haja bebidas alcoólicas. Há igrejas que usam estruturas de luta-livre, de
artes marciais e até de “rodeios”, com animais dentro dos templos, para atrair
os jovens! No tempo de Jesus e no de Paulo já havia os Jogos Olímpicos, com
diversas modalidades, mas nem Cristo nem Paulo, nem de longe, sugeriram tais
aberrações para atrair pessoas para o evangelho.
O evangelho do
entretenimento tem suplantado o evangelho do sofrimento por Cristo. Mas sem
santificação “ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14). Ser santo é ser separado,
consagrado para Deus. O apóstolo Pedro nos exorta a sermos obedientes e santos
em toda a nossa maneira de viver (1 Pe 1.13-15). Santidade pressupõe
irrepreensibilidade. Paulo exortou: “E o mesmo Deus de paz vos santifique em
tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados
irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Ts 5.23). Quando
falamos de santificação não queremos passar a ideia do legalismo e do fanatismo
de algumas denominações, de forma alguma. Para ser santo, um servo ou uma serva
de Deus não precisa tornar-se um eremita ou um monge medieval, que se isolavam
das cidades, para “não se contaminar com o mundo”.
Santificação é uma
necessidade imperiosa de separação de tudo o que a Bíblia condena e não do que
certos líderes elegem como pecado, sem qualquer fundamento bíblico. Houve tempo
em que, se um homem não usasse chapéu, não seria santo; se uma mulher não
usasse um vestido longo, com decote no pescoço e mangas compridas até aos
punhos, mesmo num clima tropical, não seria santa; também não seria santa uma
jovem que, mesmo tendo cabelos longos, aparasse as pontas; se usasse um diadema
estaria condenada ao inferno. Isso não é santidade. Isso é fanatismo,
intolerância e sectarismo, sem qualquer base na Palavra de Deus. O mais
terrível e detestável dessa visão de santidade é que tais coisas são
consideradas pecados, enquanto outras, claramente condenadas pela Bíblia, não
são consideradas, como mentira, calúnia, difamação (crimes contra a honra),
calotes, desvio de dinheiro dos cofres de igrejas, falta de amor, aborrecimento
ou ódio a quem não pensa da mesma forma, e tantos outros comportamentos
execráveis. Isso é farisaísmo, e não santidade.
Não defendemos o
desrespeito aos bons usos e aos bons costumes, que têm fundamento bíblico, mas
rejeitamos o legalismo e o autoritarismo que já empurraram muitos para o
inferno. Como ficam diante de Deus aqueles que contribuíram para a matança
espiritual sem motivo ou fundamento na lei de Deus? A eles faltava o requisito
a seguir comentado.
4. Esperando com Amor
Os crentes que
subirão ao encontro do Senhor serão seus discípulos fiéis e verdadeiros. Já
vimos que a “marca registrada” do cristão não é o nome da denominação, nem o
nome de família, nem o cargo que ocupa na igreja local, mas o amor de Deus no
coração e na prática diária. Jesus disse: “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis
uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos
ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos
outros” (Jo 13.34,35 - grifo nosso). Esta é uma verdade neotestamentária, pouco
anotada por grande parte dos evangélicos, inclusive por pastores de grandes
igrejas.
Os verdadeiros
cristãos, que esperam a volta de Jesus, não são identificados pelo nome ou
razão social da denominação, do ministério ou da igreja. O Senhor Jesus, num de
seus discursos, em presença dos seus discípulos lhes apresentou “um novo
mandamento”, por assim dizer, o “décimo primeiro mandamento”, que eles não
tinham em mente. Conheciam bem os Dez Mandamentos da Lei de Moisés, que também
era a Lei de Deus. Ele ressaltou o valor desse “novo mandamento”, que o dever
de os seus servos amarem uns aos outros, da mesma forma como Ele nos amou. Essa
é a identidade do verdadeiro cristão, preparado para subir no arrebatamento -
ter amor pelos seus irmãos em Cristo. E característica ou a marca distintiva do
verdadeiros discípulos de Jesus ter amor pelos irmãos.
Nesse quesito, ou
requisito, como estão os crentes no século XXI? Tomemos o exemplo de nosso
Brasil. O evangelho tem um crescimento numérico extraordinário. São milhares de
igrejas e milhões de crentes, numa dimensão que, segundo estatísticas com
projeções do IBGE, em 2014, os evangélicos seriam 25% da população (em torno de
52 milhões de pessoas). No entanto, são evidentes as divergências, as
competições e as discordâncias entre igrejas históricas e as chamadas
neopentecostais. Não só em termos doutrinários, mas, também em termos
comportamentais. Há líderes de grandes igrejas, que, em programas de televisão,
abertamente criticam outras igrejas e outros pastores. Isso é falta de ética, e
também falta de amor. Atitudes que em nada glorificam a Deus (cf. 1 Co 10.31).
Mais triste é ver obreiros que não conseguem sequer saudarem-se com a paz do
Senhor. Como estarão esses na vinda de Jesus?
Se pudéssemos
perguntar ao apóstolo João como estarão os crentes que não têm amor a seus
irmãos, o que ele nos responderia? Vejamos: “Aquele que diz que está na luz e
aborrece a seu irmão até agora está em trevas” (1 Jo 2.9). Isto é, quem
aborrece a seu irmão, mesmo que esteja numa igreja há muitos anos, nasceu nela,
é obreiro, prega bem, canta bem, etc., simplesmente “está em trevas”, ou seja,
não é salvo. Acreditamos que, ampliando sua resposta sobre os que não vivem em
amor e aborrecem seus irmãos, João nos acrescentaria: “E tem mais, é muito
perigoso não amar o irmão por que ‘aquele que aborrece a seu irmão está em
trevas, e anda em trevas, e não sabe para onde deva ir; porque as trevas lhe
cegaram os olhos’” (1 Jo 2.11).
Se insistíssemos,
dizendo: “Apóstolo João, esse não seria apenas um ‘pecado que não é para a
morte’, e podemos orar por eles, como o senhor diz em 1 João 5.16?”, o
apóstolo, certamente, ficaria mais sério, e responderia: “Meu filho, há muita
gente, inclusive pastores, que consideram os maiores pecados a falta de
obediência aos usos e costumes, mas muitos desses nem sequer serão reconhecidos
na vinda de Jesus. Sabe por quê? Anote: “Nós sabemos que passamos da morte para
a vida, porque amamos os irmãos; quem não ama a seu irmão permanece na morte.
Qualquer que aborrece a seu irmão é homicida. E vós sabeis que nenhum homicida
tem permanente nele a vida eterna” (1 Jo 3. 14,15 - grifo nosso).
II - Atitudes Errôneas Diante da Vinda
de Jesus - no Arrebatamento
1. Ignorando a Vinda de Jesus
Em Mateus 24.48, o
mau servo diz: “O meu senhor tarde virá”, e passa a viver de modo negligente e
desatento, completamente alheio à volta de Cristo. A este, diz o Senhor: “Virá
o senhor daquele servo num dia em que o não espera e à hora em que ele não
sabe, e separá-lo-á, e destinará a sua parte com os hipócritas; ali haverá
pranto e ranger de dentes” (Mt 24.50). Nestes tempos de sinais evidentes da
proximidade da vinda de Jesus, há muitos evangélicos brincando de ser crentes.
Há obreiros que não mais falam na vinda de Jesus. É negligência espiritual.
Quanto aos ímpios, é natural que não levem em conta as advertências da Palavra
de Deus quanto à proximidade e surpresa da volta de Jesus. Mas os cristãos não
devem descuidar-se dessa realidade espiritual tão significativa.
2. Escarnecendo das Profecias
O apóstolo Pedro
escreveu: “sabendo primeiro isto: que nos últimos dias virão escarnecedores,
andando segundo as suas próprias concupiscências, e dizendo: Onde está a
promessa da sua vinda? Porque desde que os pais dormiram todas as coisas
permanecem como desde o princípio da criação” (2 Pe 3.3,4). O apóstolo deu como
resposta o ensino bíblico, que indica a matemática de Deus quanto à contagem
dos tempos, dizendo: “Mas, amados, não ignoreis uma coisa: que um dia para o
Senhor é como mil anos, e mil anos, como um dia” (2 Pe 3.8). Pedro envia essa
mensagem a pessoas crentes, que estão nas igrejas. Como visto, no capítulo 1,
há diversas interpretações quanto ao arrebatamento da Igreja. Há, inclusive,
teólogos que dizem que Jesus jamais virá nas nuvens para buscar a sua Igreja (1
Ts 4.17), que isso é apenas uma utopia motivadora para os crentes se
comportarem de modo santo. É melhor estar preparado, e conferir os sinais
proféticos de acordo com a santa Palavra de Deus.
3. Traição e Aborrecimento
E um dos sinais da
vinda do Senhor Jesus. Esse comportamento pode levar muitos à condenação eterna.
Jesus profetizou: “Nesse tempo, muitos serão escandalizados, e trair-se-ão uns
aos outros, e uns aos outros se aborrecerão” (Mt 24.10). Qual a causa dessa
traição entre os que se dizem cristãos, no tempo da volta de Jesus? Ele
responde: “E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos se esfriará”
(Mt 24.12). Não há necessidade de nenhuma pesquisa para constatar, pelas
evidências diárias, na mídia e no comportamento humano, que a iniquidade está
generalizada, no mundo todo, e com muita incidência em nosso país.
Esse aumento da
iniquidade acaba influenciando o comportamento dos crentes negligentes quanto à
volta do Senhor. E muitos nem percebem que estão aborrecendo seus irmãos, seja
pelo legalismo exacerbado, seja pela inveja, pela calúnia, seja pela maldade e
carnalidade. O apóstolo João anotou que quem aborrece a seu irmão não pode
entrar no Reino de Deus: “Qualquer que aborrece a seu irmão é homicida. E vós
sabeis que nenhum homicida tem permanente nele a vida eterna” (1 Jo 3.15).
Naturalmente, diante de Deus, quem aborrece a seu irmão é um homicida
espiritual, passível da penalidade com a perdição, tanto quanto o homicida que
tira a vida física de alguém.
III - Os Dois Tipos de Servos
Na vinda de Jesus,
haverá dois tipos de servos. Os fiéis e os infiéis. Os que fazem a vontade de
Deus e os que estão fora de sua vontade. Os que estão no seu lugar e os que
estão fora do lugar. Os que estão vigiando e os que estão descuidados, como na
parábola das Dez Virgens.
E Jesus proferiu
outra parábola, enfatizando esses dois tipos de crentes. A parábola dos dois
servos.
1. O Servo Fiel
“Quem é, pois, o
servo fiel e prudente, que o Senhor constituiu sobre a sua casa, para dar o
sustento a seu tempo? Bem-aventurado aquele servo que o Senhor, quando vier,
achar servindo assim. Em verdade vos digo que o porá sobre todos os seus bens”
(Mt 24.4547). Essa parte da parábola, no meio do Sermão Profético de Jesus, dá
a entender que Ele se referia a servos que têm liderança, ou seja, obreiros,
pastores, dirigentes de congregação ou de trabalhos, nas igrejas locais, que,
no seu conjunto, se forem verdadeiras, formam o todo maior que constitui a
Igreja do Senhor. E que deverão prestar contas, de modo “que o Senhor, quando
vier, achar servindo assim”. “Primeiro, porque eles são constituídos “sobre a
sua casa”. Estar “sobre a casa” é ser líder, mordomo, ou administrador dos bens
de seu Senhor. Hoje, a “casa de Deus”, ou “casa de Jesus”, pode ser
identificada como uma igreja cristã, que reúne servos ou discípulos de Jesus
num determinado lugar. Numa visão mais ampla, ser “servo fiel e prudente”
pode-se aplicar a cada crente individualmente, homem ou mulher, que espera a
volta do Senhor.
Esse “servo fiel e
prudente” são os líderes ou pastores, que atuam na obra do Senhor com fidelidade
e amor. Em segundo lugar, o texto diz que esse servo, elogiado pelo seu Senhor,
é constituído “para dar o sustento a seu tempo” sobre a sua casa, ou seja, aos
que vivem e trabalham na “casa do Senhor”. Os pastores das igrejas, sejam quais
forem elas, pequenas, médias ou grandes, devem ser realmente apascentado- res
do rebanho de Jesus. As ovelhas não lhes pertencem. Todo pastor cristão
pastoreia ovelhas que não lhes pertencem. E um dia haverão de prestar contas de
como as trataram como ovelhas do Senhor. Nesse aspecto, é o apóstolo Pedro quem
melhor traduz como deve ser o comportamento dos pastores, como servos fiéis e
prudentes: “Aos presbíteros que estão entre vós, admoesto eu, que sou também
presbítero com eles, e testemunha das aflições de Cristo, e participante da
glória que se há de revelar: apascentai o rebanho de Deus que está entre vós,
tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância,
mas de ânimo pronto; nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas
servindo de exemplo ao rebanho. E, quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a
incorruptível coroa de glória. (1 Pe 5.1-4)
Essas são as
qualidades que devem identificar um “servo fiel e prudente” constituído para
cuidar da casa do Senhor. Dando o alimento ao “rebanho de Deus”, agindo, nesse
cuidado, sem autoritarismo; trabalhando sem “torpe ganância”, como tantos têm
aparecido, em noticiários na mídia, apropriando-se de dinheiros das ofertas e
dízimos das igrejas. A cobiça e a ganância têm tornado muitos obreiros em
ladrões e corruptos no meio evangélico, causando escândalos ao bom nome do
evangelho (Mt 18.7). Ao servo “fiel e prudente”, que lidera a obra do Senhor,
está reservado um galardão especial, não concedido a nenhum outro tipo de
servo: “a incorruptível coroa de glória”!
2. O Mau Servo
“Porém, se aquele mau
servo disser consigo: O meu senhor tarde virá, e começar a espancar os seus
conservos, e a comer, e a beber com os bêbados, virá o senhor daquele servo num
dia em que o não espera e à hora em que ele não sabe, e separá-lo-á, e destinará
a sua parte com os hipócritas; ali haverá pranto e ranger de dentes” (Mt
25.48-51). Nesse ponto, na parábola dos dois servos, parece que Jesus quis
mesmo exagerar nas qualidades negativas do mau servo. Se, no caso do “servo
fiel e prudente”, pudemos relacionar Com os obreiros fiéis, sobre as igrejas
cristãs, nesse caso do “mau servo” não é fácil fazer a correlação dessas
péssimas qualidades com os líderes da obra do Senhor. Admitimos que há maus
servos, ou maus obreiros, à frente de igrejas, como dirigentes, bispos,
presbíteros ou pastores. Mas entendemos que são exceções.
Certamente, tais
qualidades não recomendáveis para um servo ou serva de Deus aplicam-se bem a
todos os crentes, que estão esperando a volta de Jesus. A exemplo das “virgens
loucas”, de Mateus 25, o “mau servo” racionaliza, em função do tempo de crente,
ou da história da igreja, ao longo dos séculos, e diz: “O meu senhor tarde
virá”. Tal raciocínio leva o crente a se descuidar, e negligenciar sua fé e sua
conduta. O que é muito perigoso. Facilmente, esse tipo de pensamento leva o
crente a cair em tentação, visto que, descuidado, se esquece de orar e de
vigiar como Jesus exortou em Mateus 26.41.
Há muitos que começam
a carreira cristã, mas não a terminam. Em Mateus 24.45, o Senhor destaca a
qualidade de fidelidade e prudência do servo que estará esperando a sua vinda.
Essas características devem fazer parte da vida dos que entendem que estamos
vivendo a geração da última hora, da geração que verá e fará parte do arrebata-
mento da Igreja. “Quem é, pois, o servo fiel e prudente, que o Senhor
constituiu sobre a sua casa, para dar o sustento a seu tempo?”.
*Elinaldo Renovato de Lima, Ministro do Evangelho,
Professor universitário e Bacharel em Ciências Econômicas, pastor titular da
ADPAR - Assembleia de Deus em Parnamirim/RN, membro da Convenção
Estadual de Ministros da Igreja Evangélica Assembleia de Deus no Rio
Grande do Norte (CEMADERN) e membro da Convenção Geral das Assembleias de Deus
no Brasil (CGADB).
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